Delegada faz um alerta que mulheres que se envolvem com criminosos vivem risco elevado de feminicídio
O assassinato da jovem Mikaella Sagas, de 29 anos, no último fim de semana pelo ex-companheiro, chocou a Grande Florianópolis e reacendeu um alerta grave: o risco enfrentado por mulheres que se relacionam com homens envolvidos com o crime. A esteticista foi encontrada morta na casa onde morava, em Biguaçu, na noite do último sábado (10). Um mandado de prisão foi expedido pela Justiça contra o ex-companheiro da vítima que continua sendo procurado.
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A vítima mantinha perfis ativos nas redes sociais e chegou a afirmar, em vídeos, que era atraída por homens com “cara de bandido” e que gostava do perigo. O autor do crime, Sandro Machado Júnior, de 23 anos, tem diversas agens pela polícia, incluindo tráfico de drogas, roubo e lesão corporal. Em uma das postagens Mikaella disse: “Gosto de homem perturbado igual eu, que me ameaça pelo olhar e que fala que se me ver com outro mata nós dois, se for sonso eu tô fora”. Em outra postagem a vítima destaca o visual de bandido do ex-companheiro.
Esse tipo de envolvimento, frequentemente romantizado nas redes, pode representar uma ameaça real à integridade física e à vida dessas mulheres. Segundo especialistas em segurança pública e psicologia criminal, relações com indivíduos violentos ou ligados a organizações criminosas aumentam consideravelmente o risco de abuso, controle extremo e, em muitos casos, feminicídio.
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Histórico de violência
Diversos casos recentes envolvem vítimas que estavam ou estiveram ligadas a homens com antecedentes por violência doméstica ou tráfico. De acordo com o Observatório da Violência contra a Mulher, da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, em 51,7% dos feminicídios o autor já possuía registro de agressão através de boletim de ocorrência. Embora o envolvimento com indivíduos perigosos nunca justifique um crime, especialistas alertam que o padrão de comportamento precisa ser observado com atenção, especialmente por familiares e amigos. “Em todos os feminicídios investigados há relatos de violência anterior sofrida, mas que não foi denunciada”, disse a delegada Patrícia Zimermamm, coordenadora das delegacias da mulher da Polícia Civil..
“O feminicídio, na maioria das vezes, não acontece sem sinais prévios. As mulheres que, vendo os sinais da violência silenciam, não procuram ajuda, acabam se tornando vulneráveis e, com isso, suscetíveis a violência”, Delegada Patrícia Zimermamm
A Polícia Civil destaca que, em muitos casos, as vítimas já haviam registrado boletins de ocorrência contra os autores ou apresentado sinais de sofrimento psicológico. “Homens que demonstram uma pessoalidade agressiva e violenta, que resolvem seus problemas por meio da violência, acendem um sinal de alerta e, por isso, as mulheres precisam ficar atentas a estes sinais que as colocam em situações de vulnerabilidade, expostas a riscos que podem ser evitados ao deixarem para trás estes relacionamentos, explicou a delegada. Ela finalizou, reforçando que a Polícia Civil conta com Psicólogos Policiais capacitados que dispõem de ferramentas capazes de, na investigação do inquérito policial, identificar a violência psicológica, e por isso é importante procurar ajuda e denunciar.

Histórico de crimes
Segundo o doutor Adriano Beiras, professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mesmo que em alguns casos de feminicídio o agressor possui histórico de crimes muitos das situações estudadas são cometidas por homens comuns, sem históricos criminais anteriores.
Apesar disso, ele destaca que existe uma “questão social e cultural de incentivo a dominação masculina e submissão da mulher que pode produzir uma certa naturalização do controle da vítima. Para o professor, que também é o coordenador do grupo de pesquisa “Margens”, o perigo não está apenas no histórico criminal e devemos questionar a forma que os homens ainda são socializados, fora de planos de igualdade de gênero ou desalinhado às mudanças sociais e progressos da sociedade.
Ela “exaltou” o ex-companheiro bandido
Quando indagado sobre as postagens da vítima, o pesquisador explicou que ela, possivelmente, gostava das expressões de masculinidades associadas a violências faladas anteriormente. “Sobre a construção social da masculinidade, pode haver uma tendência a maximizar a violência como algo atrativo dos homens e de desejo sexual e, evidentemente, isso pode colocá-la em risco”, declarou.
“Nesta frase há uma identificação, uma erotização do lugar do homem violento e dominador, e posteriormente mistura-se o desejo com processos identitários e subjetivos. São coisas diferentes”. Doutor Adriano Beiras.
Ele afirmou que uma mulher pode se sentir mais atraída por homens violentos. Ainda existe uma estreita relação entre violência com a masculinidade e isso é uma construção cultural. “Homens não são necessariamente mais violentos, ainda que possam ser mais agressivos, impulsivos ou ativos, por questões biológicas, há uma interferência significativa da cultura na produção de subjetividades masculinas” reforçou.

Beiras declarou que não se deve focar a causa e culpa na atitude da vítima. “Esta questão é social e cultural, que participam homens e mulheres. Homens são estimulados o tempo todo na família e na mídia a serem mais violentos e agressivos para ser homem de verdade. Com um contexto social desigual e de criminalidade, isso pode se exacerbar”, completou.
Violência contra a mulher em Santa Catarina
Segundo dados do Observatório da Violência contra a Mulher, da ALESC, entre janeiro e abril deste ano foram requeridas 11.384 medidas protetivas e 26.272 casos de violência. No mesmo período ocorreram 14 feminicídios, sendo que durante todo o ano de 2024 foram 51 casos.
Entre 2020 e 2024 o Observatório contabilizou 364.066 crimes de violência contra a mulher, o que representa mais de 199 casos por dia no estado. Além disso, ocorrem 277 mortes qualificadas como feminicídios. Os dados mostram ainda o registro de 80.905 casos de agressão, 173.419 situações de ameaça e 2.812 estupros.
Mandado de prisão é expedido contra assassino de esteticista
O acusado tem várias agens pela polícia e estava em liberdade provisória
As forças policiais seguem a procura de Sandro Coutinho Machado Júnior, de 23 anos, acusado de ass a ex-companheira Mikaella Sagás, de 29 anos, em Biguaçu, na Grande Florianópolis. A Justiça catarinense decretou…
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